De volta à rotina

24/02/2017

Quando eu fiquei grávida uma das primeiras coisas que algumas pessoas me perguntaram foi "mas não vai parar de estudar, né?"

E é sobre isso que eu vou falar hoje.

Por que as pessoas acham que você vai parar de estudar "só" porque terá um filho? É por que filho gera gastos? Demanda muito tempo investido? Ocupa nossa cabeça 24h por dia? Muda o foco da nossa vida e reorganiza as nossas prioridades? Sim, provavelmente; afinal, filhos fazem isso mesmo. Mas refletindo sobre este assunto, vi que talvez um grande contribuinte para que a mulher pare de estudar porque teve um filho é justamente a falta de incentivo, seja da família, do Estado ou da sociedade como um todo. Se as coisas fossem mais baratas e houvesse mais programas de incentivo às mães, para dizer o mínimo, tal abandono dos estudos não se faria necessário.

Quando eu engravidei, por exemplo, estava cursando o final do segundo semestre da minha faculdade de Letras e decidi que iria ao terceiro até que a vinda do meu filho permitisse. No caso, minhas aulas terminariam em junho/julho e meu bebê viria por maio - e veio, no dia 29.

Na prática, porém, é diferente. Na segunda parte do semestre eu estava cansada já de carregar meu barrigão pra lá e pra cá quatro noites por semana e decidi terminar o semestre em casa, graças a oportunidade que um negocinho chamado "licença maternidade" acompanhada de "exercícios domiciliares" dá. Eu tinha três meses pra ficar afastada da faculdade, recebendo meus exercícios em casa de acordo com o combinado com os meus professores, a partir de um atestado do meu médico obstetra e assim que estivesse apta poderia retornar. 

Na teoria era tudo lindo. Na prática não foi tanto assim.

Parei de ir à aula no ínicio de maio e meu filho chegou no final e mesmo assim eu ainda não tinha conseguido concluir todos os meus exercícios, embora quisesse, porque nem todas as professoras me mandavam eles por e-mail, como fora combinado, em prazos certos. Eu tive que implorar por atividades muitas vezes. Tive que mandar milhares de e-mails para a coordenadora do curso a fim de que ela intercedesse por mim. Tive que pedir socorro aos meus colegas. Tive que concluir meu semestre com meu filho nos braços, deitada na cama em um pós-parto sofrido, procurando compreender regras complexas de sintaxe pelo notebook e escrever resenhas de linguística com algum nexo enquanto não conseguia nem lembrar direito em que dia estávamos.

Durante as férias de inverno, concluí, enfim, todo o semestre - e com êxito. E não falo isso como se fosse um mérito totalmente meu. Se eu não tivesse uma família para me dar suporte, o pai do meu filho presente e um Deus que atende as minhas orações, eu certamente não teria conseguido. 

No semestre seguinte, o quarto, eu continuei a faculdade também, só que à distância. Fiz três disciplinas que não tem praticamente nada a ver com o meu curso (porque as de Ensino à Distância/EaD são sempre mais gerais), e senti saudades das minhas Letras. Então, lá pelos últimos meses do ano, decidi oferecer a quem necessitasse um humilde trabalho como revisora de textos, para já descolar uma graninha que é sempre bem-vinda, mas principalmente porque eu estava necessitada de lidar com algo que me fizesse lembrar como eu amo meu curso.

Finalmente, no presente semestre, o quinto, eis que voltarei a cursar a faculdade presencialmente - três disciplinas presenciais e uma à distância, para ser mais exata. E a verdade é que eu estava ansiando por isso, porque já estou há 9 meses em casa e minha mente não aguenta mais a mesma rotina - embora meu corpo quisesse apenas dormir, dormir e dormir -, mas também sinto o coração bater mais forte toda vez que penso na loucura que uma faculdade e seus oitocentos xerox por semana geram nas nossas vidas. 

A questão toda, porém, é que eu estou há 9 meses em casa com o meu filho. Quase que inseparavelmente. Ele está fora da minha barriga, mas é como se ainda fosse um pedacinho meu, um chaveiro que eu carrego pra todo lugar. Eu vou passar três noites longe dele e sinceramente não faço ideia de como será. Se estou com medo? Obviamente. Sei que vão cuidar bem do meu bebê - que em maio já completará um ano (!!!) -, mas sei também que depois que a gente vira mãe as nossas preocupações se multiplicam, queremos cuidar de tudo e de todos e por vezes esquecemos de cuidar de nós mesmas. Já me vejo contando os minutos pra que a aula acabe, pra poder chegar em casa logo e dar um abraço apertado no Theozinho. Já sinto meu coração doer ao ter que deixá-lo quando for sair, com aquela carinha linda me olhando. Já me vejo enlouquecida tentando ler algum material enquanto o Theo tenta tirá-lo da minha mão para por na boca.

Mas nem por isso, nem quando vi um teste de gravidez positivo em minhas mãos, eu desisti de estudar. Desde o ínicio respondi a tal pergunta com um sonoro "não, não vou parar, eu vou continuar até o fim" que na época era mais fé do que qualquer outra coisa, mas que hoje vejo que foi uma determinação alicerçada em amor da minha família e de Jesus comigo, me dando suporte.

E por que estou falando tudo isso, afinal de contas? Ora, porque eu acho que em vez de olhar para a mulher que engravidou e que estuda (ou trabalha) e perguntar se ela vai parar de fazer o que estava fazendo porque ganhou um filho - esboçando uma cara e tom de reprovação caso a resposta seja positiva -, o mundo deveria olhar para ela e dizer "como eu posso te ajudar para não ter que fazer isso?" - pois nem sempre, meus amigos, é uma questão de escolha. Nem todos têm a graça de conseguir bancar estudos enquanto possuem mais uma nova boca para alimentar em casa, sabe? Logo, só pergunte se for ajudar ao ouvir a resposta.

De resto, se você já está ajudando, continue. Certamente o seu apoio será lembrado pela mamãe que você incentivou quando ela estiver recebendo seu diploma de conclusão de curso ou uma promoção no trabalho*. 

Dessas atitudes bonitas, nós, mães, sempre lembramos. Eu garanto.


*A mulher que opta por abrir mão de tudo para ser dona de casa e mãe de seus filhos também merece respeito e apoio, viu? Pois isso por si só já dá um trabalho tremendo!!! Aqui estou apenas abordando a questão dos estudos principalmente, pois foi o que rolou comigo. Na dúvida, respeite as mães
Especialmente a sua.

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